Eu gosto muito do blog do Azenha, e você certamente encontrará muitas referências a ele aqui neste blog. Mas, às vezes, ele exagera.
Da mesma forma como a VEJA é considerada por muitos como um panfleto neocon, o blog do Azenha, às vezes apela para estratégia similares, em sentido contrário -- qualquer argumento vale para atacar seus adversários.
Vejamos um exemplo de texto selecionado por Azenha para seu blog:
"Tive ocasião de discutir com [FHC] o significado da frase ["a esquerda é burra"]. Discordava do seu sentido mais óbvio e intrigava-me a sua arrogância. Para FHC a frase tinha vários significados: a esquerda ainda não entendera que o neoliberalismo era a única solução para a economia mundial e a melhor garantia contra as propaladas crises do capitalismo; o principal líder da esquerda, Inácio Lula da Silva, era um operário ignorante e sem preparação para governar o país; a esquerda estava minada pelo fraccionismo e nunca se uniria (ao contrário da direita) para assumir o poder." (Fonte: Boaventura de Sousa Santos, no Blog do Azenha)
Esta descrição do diálogo parece-me absolutamente fake.
Não consigo imaginar FHC afirmando que o "neoliberalismo era a única solução para a economia mundial". Por mais que discordemos de FHC, dizer que "x é a única solução para y" não combina com sua forma de falar. A realidade é mais complexa do que isso.
Tudo isso revela uma das falácias mais usadas na blogosfera de esquerda: o "reductio ad neoliberatium", ou seja, reduzir o discurso do seu oponente a uma apologia ao neoliberalismo, e, assim, condená-lo.
O "reductio ad neoliberatium" tem uma versão tipicamente brasileira, que é o "reductio ad tucanatum" -- que consiste em acusar seu adversário de tucano, e, portanto, neoliberal, e, portanto, mal intencionado.
E ambas falácias são variações do "
reductio ad hitlerum" -- uma falácia que geralmente assume a seguinte forma:
"Se Hitler (ou os nazistas) apoiaram X, então X deve ser maligno/indesejável/ruim".
Ainda de acordo com a Wikipedia "O argumento carrega um forte peso emocional e retórico, uma vez que em muitas culturas qualquer relação com Hitler ou nazistas é automaticamente condenada. A tática é muitas vezes utilizada para desqualificar argumentos ou mesmo utilizada quando não há mais argumentos, e tende a produzir efeitos mais agressivos do que racionais nas respostas, desviando o foco do oponente".
Todas estas falácias são uma mistura de "
argumento ad hominem, que consiste em atacar o adversário ao invés de suas idéias; e da "
Falácia do espantalho", que consiste em criar uma versão caricatural das idéias de seu adversário (o espantalho), e atacar esta versão, ao invés das idéias originais.
Por volta de 1990, o advogado norte-americano Mike Godwin fez uma afirmação que tornou-se conhecida como "
Lei de Godwin":
"À medida que uma discussão na Usenet cresce, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Hitler ou nazistas aproxima-se de 1".
Ou seja: quanto mais avança a discussão, maior a probabilidade de que alguém use o "reductio ad hitlerum".
Uma antiga tradição da usenet estabelece que, uma vez uma destas comparações seja feita, a discussão deve ser imediatamente finalizada e a pessoa que citou o nazismo automaticamente "perde" o debate, seja ele qual for.
Da mesma forma, podemos dizer que:
"À medida que uma discussão política se desenvolve, a probabilidade de alguém usar um 'reductio ad neoliberatium' ou 'reductio ad tucanatum' aproxima-se de 1".