2012-04-16

A essência da manipulação jornalística

Ontem eu publiquei um resumo da reportagem da Veja. Mas não fiquei inteiramente satisfeito com o resultado.

Estou tentando extrair a essência do artigo, para deixar claro o tamanho do absurdo que a Veja escreveu.

Aqui vai uma versão mais concentrada da manipulação jornalística perpetrada pela Veja:

 

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Josef Stalin, o ditador soviético ídolo de muitos petistas, considerava as ideias mais perigosas do que as armas e, por isso, suprimiu-as, matando quem teimava em manifestá-las. Basta uma contrariedade maior para que o espírito de papai Stalin baixe e rasgue a fantasia democrática dos petistas parcialmente convertidos ao convívio civilizado.

 

Como formigas guiadas por feromônios, os militantes de todos os escalões, de ministros de estado aos mais deploráveis capangas pagos com dinheiro público na internet, vão, seguindo a cartilha stalinista, fazer valer as versões sobre os fatos.

 

Esse truque funcionou na União Soviética, funcionou na Alemanha nazista, funcionou na Itália fascista de Mussolini, por que não funcionaria no Brasil?

 

Bem, ao contrário dos laboratórios sociais totalitários tão admirados por petistas, o Brasil é uma democracia, tem uma imprensa livre e vigilante, um Congresso eleito pelo voto popular e um Judiciário que, apesar de fortemente criticado recentemente, tem demonstrado independência e vigor doutrinário.

 

Isso significa que para o delírio se materializar é preciso neutralizar as instâncias democráticas, calando-as ou garantindo que a estridência radical petista supere as vozes da razão e do bom-senso.

 

A CPI é o melhor instrumento que a falconaria petista poderia dispor -- pelo menos antes de conseguirem suprimir logo a imprensa livre, o Judiciário independente e o Parlamento, fósseis de um sistema burguês de dominação que está passando da hora de ser superado pelo lulopetismo.

 

Mas, enquanto o triunfo final não vem, os falcões petistas vão se contentar em usar a CPI para desmoralizar todos os personagens e forças que ousem se colocar no caminho da marcha arrasadora da história.

 

Lula e os falcões petistas querem emascular a imprensa independente no Brasil.

 

Surge agora uma oportunidade tão eficiente quanto a censura, com a vantagem de se obter a servidão acrítica da imprensa sem recorrer a nenhum mecanismo legal que possa vir a ser identificado com a supressão da liberdade de expressão.

 

Papai Stalin ficaria orgulhoso dos pupilos.

 

Motivo mesmo para uma CPI seria investigar os milionários repasses de dinheiro público que o governo e suas estatais fazem a notórios achacadores, chantagistas e manipuladores profissionais na internet. Fica a sugestão.

 

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/eles-querem-apagar-o-mensalao

 

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Esta é a base. A partir daí, podemos retirar a essência:

 

"A CPI [do Cachoeira] é o melhor instrumento que a falconaria petista poderia dispor para suprimir a imprensa livre, o Judiciário independente e o Parlamento. Motivo mesmo para uma CPI seria investigar os achacadores, chantagistas e manipuladores profissionais na internet. Fica a sugestão."

 

 

Aí está! A essência da manipulação em seu estado mais puro!

A Veja não apenas pretende acabar com a CPI do Cachoeira, sugerindo que ela é uma ameaça a liberdade de imprensa, como pede uma CPI contra os blogs, em um nítido ataque à liberdade de expressão.

2012-04-02

Civita e Murdoch: a Veja é o nosso News of the World

Na Inglaterra, um panfleto de Rupert Murdoch foi pego com grampos ilegais, obtidos através do relacionamento de seus jornalistas com policiais. Quando isso foi descoberto, seus leitores ficam escandalizados, anunciantes abandonaram a publicação, e o jornal foi fechado.

No Brasil, o panfleto de Roberto Civita obteve grampos ilegais através de seu relacionamento com uma organização criminosa, selecionou informações para atingir seus adversário, ocultou o que não era de seu interesse, transformou um dos membros da quadrilha em "herói da ética", ajudou a melar investigações... E tudo fica como está???

A Veja não apenas *usou*, mas *ajudou* a promover os interesses de uma rede criminosa.

A Veja *faz parte* de uma rede criminosa.

Exemplos:

A Veja deu as páginas amarelas para o Arruda falar de ética -- e declarou que ele havia "dado a volta por cima", lutava contra a corrupção, etc. O Arruda era, na época, um dos possíveis vices do Serra na chapa "vote em um careca e leve dois". Será que os repórteres investigativos da Veja não sabiam dos crimes do Arruda? Se sabiam porque nunca noticiaram?

A Veja deu as páginas amarelas para o Demóstenes bradar contra a corrupção, chegando a afirmar que ele era um dos "mosqueteiros da ética", um dos poucos que salvavam o congresso da corrupção. Eles não sabiam do seu esquema com Carlinhos Cachoeira? Se sabiam, porque não noticiaram?

A Veja deu capas e mais capas para atacar a Operação Satiagraha e melar as investigações contra Daniel Dantas. Uma das reportagens usou um grampo envolvendo ninguém menos que.... Demóstenes Torres.

Policarpo Jr. mantinha relações com Carlinhos Cachoeira. Mais de 200 telefonemas registrados em um ano. Ele sabia do esquema do bicheiro. Por que nunca denunciou? É normal uma revista manter uma relação tão longa com uma organização criminosa, exaltando um de seus membros no senado, etc?

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Em 2010 a Veja dedicou inúmeras capas para denunciar Dilma como corrupta, mentirosa, e incompetente; Serra era vendido como um político sério e competente (apesar de todos os sinais em contrário, que eu fui mandando ao longo do ano -- exemplo: tempo de desencompatibilização, escolha do vice, campanha sórdida, etc). O que você chama de "liberdade de imprensa" foi, na realidade, uma campanha de assassinato de reputação -- que, felizmente, falhou.

Imagine se o Serra tivesse vencido as eleições de 2010, e a Dilma ficasse marcada como corrupta, mentirosa, e incompetente, pelo resto da vida?

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Eu sempre disse que a Veja usava métodos criminosos; o que estamos vendo, agora, é que ela não apenas usava métodos criminosos, mas também estava diretamente envolvida num esquema criminoso.