2008-12-16

Ombudsman da Cultura: "Reinaldo Azevedo e Márcio Chaer conspiraram contra a qualidade e o equilíbrio jornalístico"

""O senhor se indispôs com delegados, Polícia Federal, Ministério da Justiça, Ministério Público, juízes e associações de juízes. Todos eles são contra o estado de direito? O que aconteceu?"

Esta pergunta simples e reveladora, feita pela jornalista Eliane Cantanhêde, resume a importância e o interesse despertado pelo Roda Viva com o presidente do STF, Gilmar Mendes, quaisquer que fossem, antes, ou sejam, depois, as opiniões dos telespectadores sobre o magistrado. A pergunta de Eliane também é emblemática de um programa que, nem sempre com a ajuda de parte dos entrevistadores, diga-se, abordou todas as polêmicas conhecidas e em pauta sobre as decisões e idéias do presidente da principal corte de justiça do país.

A âncora Lillian Witte Fibe, cumprindo de forma competente a função de garantir que todos esses assuntos fossem abordados, abriu com duas perguntas que muitos gostariam de fazer: onde está o áudio do suposto grampo da conversa de Gilmar Mendes com o senador Demóstenes Torres e qual a responsabilidade do STF pelo vazamento de um ofício reservado do tribunal à revista Veja? A pergunta provocou uma resposta pouco convincente e dois argumentos surpreendentes do entrevistado: o de que não cabia a ele "demonstrar se existe ou não" o áudio da suposta conversa grampeada e o de que a questão era "completamente irrelevante." (...)

Eliane Cantanhêde chegou a provocar incontida irritação e frases de censura no entrevistado ("Nessa área, ninguém vai me dar lição!") ao colocar em debate, de forma enérgica, uma série de questões, entre elas a escandalosa discriminação que os pobres sofrem na Justiça, o fato de Gilmar Mendes ter considerado as fitas gravadas e as evidências contra Daniel Dantas como "alusões genéricas e argumentos especulativos" e a interpretação do entrevistado de que quem resistiu com armas à ditadura foi terrorista. Gilmar se defendeu dizendo que já concedeu hábeas corpus até para o PCC e que, no embate com delegado Protógenes, não está disputando "campeonato de popularidade". O entrevistador Carlos Marchi, do Estadão, também fez perguntas sobre o caso Daniel Dantas, a polêmica causada pela posição de Mendes sobre terrorismo e o papel da imprensa. Mas sua atuação foi apática e contrastante com o empenho de Eliane.

Já Márcio Chaer, do site Consultor Jurídico, além de encarnar um velho problema do Roda Viva – o dos entrevistadores que desenvolvem teses, em vez de perguntar - deixou claro, com sua participação, de que queria mais usar a bancada do Roda Viva para mandar recados e insinuações relacionadas à guerra de blogs políticos em que está mergulhado do que para entrevistar o presidente do STF a respeito de questões que mobilizam a opinião pública. Chegou a sugerir ao ministro o enquadramento de colegas de profissão que não identificou por "formação de quadrilha".

Praticamente dispensando Mendes de responder, Chaer considerou casos revoltantes como o do policial absolvido recentemente no Rio depois de metralhar um carro ocupado por mãe e filho pequeno e o do promotor absolvido em São Paulo depois de descarregar uma arma contra um rapaz como "supostos crimes" que foram "exagerados" pela imprensa. E deu a palavra para que o Mendes questionasse a suposta "técnica do romance" usada pela imprensa na cobertura dos crimes no país. Márcio também reduziu a importância do voto popular à escolha do falecido Enéas Carneiro e praticamente propôs que o presidente do STF criticasse a qualidade dos juízes de primeira instância. Em alguns momentos, o próprio Gilmar Mendes chegou a afunilar o olhos, sem saber se era para dizer algo para corroborar as "teses" de Chaer.

Como Márcio Chaer, Reinaldo Azevedo, da revista Veja, passou todo o programa usando Gilmar Mendes – e às vezes também dispensando a participação do entrevistado – para expor suas "teses" e fazer ataques. Fez, é verdade, algumas perguntas que precisavam ser feitas – como a que levou Mendes a dizer que o juiz De Sanctis confrontou o STF e outra, sobre a declarada admiração de De Sanctis pelo pensamento do jurista pró-nazista Carl Schmidt. Mas a maior parte do tempo Azevedo usou para fazer da bancada do Roda Viva uma tribuna na qual dispensou Gilmar Mendes da obrigação de apresentar o áudio do grampo e para um constrangedor contorcionismo pelo qual transformou a ministra Dilma Rousseff e o ministro Paulo Vanhucci em pessoas que poderiam ser enquadradas atualmente como terroristas pelo fato de terem pertencido, durante a ditadura, ao grupo de esquerda liderado por Carlos Marighela. Sem pergunta específica, Reinaldo também atacou a decisão do STF sobre a Reserva Raposa Serra do Sol.

Reinaldo Azevedo e Márcio Chaer, na tentativa de instrumentalizar o programa diante de um tema tão delicado e de um personagem tão controvertido, conspiraram contra a qualidade e o equilíbrio jornalístico desta edição do Roda Viva, o que sugere uma cuidadosa reflexão da direção do programa sobre os critérios de seleção dos entrevistadores. No final das contas, no entanto, principalmente quando confrontados à qualidade das intervenções de Lillian Witte Fibe e de Eliane Cantanhêde, eles acabaram desmoralizando setores da sociedade que vêem com simpatia o ativismo e o atual protagonismo político e ideológico de Giilmar Mendes.

O Roda Viva, portanto, não perdeu o rumo. Foi um programa interessante, pertinente e, considerada a ressalva à escolha infeliz de parte da bancada, fiel à sua tradição de debater e discutir as questões relevantes para a o cidadão telespectador de São Paulo e do Brasil.

E acreditem: sem a participação do Luís Nassif" (Fonte:Ombudsman da Cultura)


No início do programa de ontem o Reinaldo Azevedo fez uma contundente defesa da revista em que trabalha. E, note-se, sem sequer ter sido perguntado. Disse ele: "Se duvidam do áudio é porque duvidam do ministro e de um senador da república".

EU DUVIDO DOS DOIS.

Você não?

4 comentários:

  1. Eu duvido dos três. Dos dois e da Revista Veja.

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  2. Interessante ele dizer "O Roda Viva, portanto, não perdeu o rumo."

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  3. Difícil é achar alguém que não duvide da revista Veja e da Editora "1.o de" Abril.

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  4. Essa pergunta do Azedo deveria ser reapresentada agora, porque ao que tudo indica o referido senador estava ligado ao crime organizado e está em vias de ter o mandato cassado.

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